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Aprendi como o coletivo supera planejamentos

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Postado em: 2 de setembro, 2018.    

Estávamos acampados numa floresta de uma montanha muito perigosa. Nossa missão de mapear e traçar uma estrada que cortasse até o outro lado da montanha ainda estava na metade. Chovia muito e a chuva ameaçava levar nosso acampamento ribanceira abaixo, de uma garganta íngreme. Se o volume de água que descia do cume da montanha aumentasse, talvez não tivéssemos chances de sobreviver.

 

Aceitei ser o engenheiro chefe daquela missão pela minha larga experiência em planejamento de estradas e pontes em regiões difíceis. Comandava um grupo de quase trinta homens, entre engenheiros e técnicos, e mais um grupo de cerca de 20 índios da região que nos serviam de guias, ajudantes e carregadores de bagagens e equipamentos.

 

Junto com um grupo de engenheiro auxiliares, analisei a situação: não dava para voltar pela estrada que viemos, tampouco era possível seguir mata adentro, abrindo novas picadas. Os índios se protegeram algumas centenas de metros mais abaixo, na estrada, como se também não soubessem se seria melhor subir ou descer a montanha.

 

Depois de algumas horas de discussão, chegamos a uma solução, perigosa, mas viável: havia um trecho em que a barreira de um lado da montanha se aproximava da outra, do outro lado, criando um vão de cerca de dez metros entre as barreiras. Poderíamos passar de um lado menos seguro para outro lado em que a água não ameaçava levar tudo abismo abaixo.

 

Imediatamente chamei vários outros técnicos, apresentamos a proposta de fazermos uma ponta estiada de cordas e paus, para atravessarmos ao outro lado. Eles viram que era a única saída e imediatamente começamos a planejar a melhor maneira de construir a ponte. As ideias iam sendo dadas e sendo descartadas por alguma inviabilidade. Poderíamos jogar cordas para se prenderem nas pedras do outro lado e com a passagem de algum corajoso do grupo, trabalharíamos na confecção da ponte. Havia ainda uma certa discussão sobre o formato mais seguro da ponte e já havíamos perdidos muitas horas nessa discussão. Afinal era a vida de todos que estava em jogo e queríamos muito sobreviver a todo custo. Talvez isso acirrasse tanto a briga pelas ideias que seriam as mais apropriadas, com argumentos inflamados.

 

De repente, um dos nossos homens chega correndo ao nosso reduto de tenda, ofegante e gritando meu nome: – doutor Prates! doutor Prates! E mesmo com dificuldade do cansaço, falou: – os índios, os índios. Eles estão construindo uma ponte de cordas e cipós, está quase pronta para atravessarem para outro lado, mais embaixo.

 

Fiquei atônito, mas feliz com a notícia. Como os índios haviam planejado isso mais rapidamente do que um monte de engenheiros e técnicos especialistas? Descemos todos juntos para o lugar onde os índios estavam terminando a ponte. E fiquei mais surpreso ainda. Embora rudimentar, a ponte de fato estava feita com certa segurança. Eles trançavam com maestria e cuidado as cordas e os cipós de maneira bastante peculiar, de modo que ela oferecia resistência suficiente para passar mais de um homem de cada vez. Fiquei extasiado com o esmero com que usavam as mãos, como se cada um acrescentasse ou corrigisse o trabalho do outro, sem parar.

 

Em pouco tempo, conseguimos, aos poucos, ultrapassar para o outro lado do penhasco, levando parte da bagagem essencial para a nossa sobrevivência no caminho de volta. E pudemos ver que o lado em que estávamos, aos poucos ia sendo devastado pela correnteza de água e lama que descia lá de cima. Não teríamos sobrevivido se tivéssemos ficado lá esperando a chuva passar.

 

Porém, em um momento de descanso dessa difícil empreitada, sentado no meio dos índios e dos nossos homens, perguntei-me: – como esses nativos haviam conseguido planejar tão rapidamente essa ponte? Por que nós perdemos tanto tempo para decidir como começaríamos a executar a nossa travessia? Olhei para alguns índios e percebi algo curioso: eles tinham adornos de tiras fininhas de cipós com o mesmo formato da ponte que fizeram. Os trançados desses adornos de cordões rústicos estavam ali, no entrelaçado da ponte que nos conduziu à sobrevivência.

 

Percebi que apesar de nossa formação profissional e experiência com as tecnologias de pontes eram muito mais avançadas, porém, nossa necessidade de planejar demasiadamente racional com grupo de especialistas tem seu preço. Levamos muito tempo com a necessidade de mostrar conhecimento, poder e domínio sobre as decisões; disputamos demasiadamente as ideias como se fossem propriedades pessoais e esquecemos algo elementar: nessas ocasiões de perigo, o coletivo está acima de qualquer um e um grupo vira equipe quando o esforço individual é complementar as ideias e empenho um dos outros.

 

Como fazem as crianças quando estão construindo algo para a alegria de todas elas, os índios simplesmente perceberam o que fazer e fizeram. Eles tinham matrizes naturais em suas mentes e que já usavam em seus adornos; o pensamento de um era o pensamento de todos: fazer o melhor para a realização da ponte em tempo hábil.

 

A partir de então, passei a pensar diferente sobre planejamento e realização de missões. Era preciso superar o orgulho, a necessidade de poder pessoal no excesso de racionalização e disputa entre os integrantes do grupo, e deixar fluir a experiência, o sentido de contribuição, o esforço de fazer o melhor para a realização coletiva. Descobri em outras ocasiões, que os ajustes vão sendo feitos rapidamente e os pequenos erros servem de alertas, de adequação do rumo, de aprendizado. Quando sabemos que precisamos realizar conjuntamente, a dedicação de cada um contribui com o avanço mais rápido em busca de resultados melhores.

 

Compreendi com os índios que a gestão de pessoas precisa levar em conta essa química natural: se todo mundo quer o melhor para a equipe, cada um se esforça mais do que poderia ser-lhe cobrado, porque o faz com a alegria do pertencimento a algo que é bem maior, que está no cerne da natureza humana: o espírito da colaboração para realizar algo que, sozinho, jamais seria possível.

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