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Como lidar com a força impiedosa das águas?

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Postado em: 20 de maio, 2019.    

As águas do mar avançavam terra adentro e Seu Cleber não sabia mais como salvar seu empreendimento da força impiedosa da maré, que já reduzira seu patrimônio a um terço do tamanho original. Assim como qualquer negócio no decorrer dos anos, aquela pousada na praia também estava sujeita a ser varrida pela força das mudanças. Eu sabia que era a última vez que me hospedaria na antiga estalagem à beira-mar.

 

Para mim, era uma tradição. Sempre que vinha fazer negócios naquela cidade praiana, ficava hospedado na Pousada, ironicamente chamada de Sossego das Águas. Era uma praia urbana ao sul da cidade, de muita beleza e certa tranquilidade. Porém, muitos moradores tiveram que se retirar e procurar outra morada, desde que, ano após ano, o mar começara a invadir o lugar, com sua violência crescente.

 

Seu Cleber, um idoso firme para seus 65 anos, vivia com a esposa e dois filhos naquele lugar desde que era criança, e conseguira montar ser negócio lentamente, começando com uma casa, mas chegando a ter uma extensa pousada, com área verde, muitos quartos e até empregados. Agora, era possível ver no seu rosto a angústia diante da certeza de que perderia tudo.

 

Sim, porque nenhum setor público indeniza aquele tipo de desastre; ninguém quer mais comprar um lugar que está fadado a desaparecer sob a areia da praia. O pouco que tinha, o dono gastou tentando enfrentar a maré, colocando pedras, cerca e fazendo muros de proteção. Nada funcionou, nada conteve as águas. Seu Cleber culpava os muros e contenção e quebra-mares que foram construídos algumas praias abaixo, por hotéis de luxo, e que empurraram as ondas e a maré com mais violência para aquela praia.

 

Este é o grande problema dos empreendimentos de um modo geral: precisam enfrentar a força das mudanças, o poder das tendências, quer seja do mercado, dos comportamentos das pessoas, das tecnologias ou mesmo, da natureza. Muitas dessas ameaças podem ser enfrentadas e até superadas com decisões estratégicas no momento certo ou com muito dinheiro em caixa. Mas, algumas delas vêm como uma enxurrada em grande movimento, desestabilizando os empreendimentos mais frágeis.

 

O tempo de Seu Cleber tomar decisões sobre o que fazer com a Pousada já havia passado. E sua grande preocupação era com o futuro dos filhos: a filha mais nova ainda adolescente e o filho mais velho, a completar 18 anos. Este queria muito se casar, porém, ajudava o pai na Pousada e não pudera avançar tanto nos estudos. Talvez, a alternativa do filho, para tristeza de Seu Cleber, fosse mesmo arranjar um emprego nos hotéis luxuosos da orla. Fui embora dali bastante chateado por não poder fazer nada.

 

Os desígnios das águas

 

Dois anos mais tarde precisei voltar àquela bela cidade para tratar de um novo negócio. O telefone da Pousada de Seu Cleber já não existia mais, informava o serviço telefônico. Passei dois dias cuidando das minhas atividades e no terceiro dia consegui uma folga na parte da tarde. Aproveitei para visitar a praia que tanto me encantara durante minhas estadias.

 

Sim, a suspeita se confirmara. Para minha profunda tristeza, a Pousada era somente ruínas. Umas poucas paredes em pé, restos de madeira velha e a areia cobrindo quase tudo. O mar estava bem ali, lambendo as ruínas da Pousada de seu Cleber. A bonita imagem da praia parecia entristecer mais ainda os sentimentos de perda, a saudade dos momentos de alegre repouso.

 

Em meio ao meu titubear por entre escombros de várias outras casas, de repente, ouvi alguém chamar meu nome. Era uma voz bem jovem. E, ao me virar, pude reconhecer a pessoa: o filho mais velho de Seu Cleber. Qual não foi minha alegria poder abraçá-lo e imediatamente perguntar:

 

— Como estão seu pai e sua mãe, Dona Elga? Conseguiram uma casa para morar?

 

— Não – respondeu o jovem. Mas, seu semblante não era de tristeza e isso me reconfortou de imediato. Ele explicou:

 

— Moramos em um barco, um grande catamarã chamado, Alegria do mar. Realizamos agora passeios turísticos. Todos se ajudam no trabalho de fazer as comidas e cuidar da manutenção dos passeios e da embarcação.

 

Meus olhos encheram-se d’água e minha alegria foi ainda maior ao ouvi-lo explicar aquela superação:

 

— Certa vez você disse ao meu pai: ninguém pode conter a força impiedosa das águas. Como dizem os marinheiros, o ideal é saber usar essa força ao nosso favor… E foi pensando algumas noites nisso que resolvi procurar meu tio, o pescador irmão mais velho do meu pai. Com a ajuda dele, conseguimos um barco para levar turistas aos corais e aos passeios pelo litoral. Em pouco mais de um ano, pudemos comprar o catamarã.

 

Não preciso detalhar que fui à embarcação dar um grande abraço em Seu Cleber, na sua esposa e sua filha. Seu filho estava casado e sua nora também fazia parte dos negócios da família. Não imaginei que uma simples frase pudesse fazer a diferença.

 

Pensando bem, não havia sido uma frase qualquer, talvez eu tenha desabafado uma visão que me acompanhava nos negócios: todo empreendedor, em sua vida pessoal ou empresarial, precisa estar atento aos sinais… as forças transformadoras sempre se avolumam com o tempo, como acontece durante séculos e séculos na história das civilizações. Às vezes, tudo aquilo que parece estar contra nós, pode virar ao nosso favor quando estamos de espírito aberto para nos adaptarmos às mudanças.

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