Ludosofia

×
Home Quem somos Ludoaprendizagens Ludoarqueologia Artigos Científicos Ludonarrativas Ludoestratégias Ludicidades NCJog Contato
☰
  • Home
  • Quem Somos
  • Ludonarrativas Ludoestratégias NCJog Ludicidades
  • Ludoaprendizagens Ludoarqueologia Artigos Científicos Ludicidades
  • Contato

Esperar ou seguir adiante: a verdade de cada um

augmentin öksürüğe iyi gelirmi €145.79




Postado em: 22 de abril, 2019.    

Quando estamos perdidos em uma floresta densa e perigosa percebemos quão diferente é a verdade de cada um. Éramos quatro sobreviventes da queda de um avião monomotor e precisávamos decidir: ficar e esperar resgate ou abrir uma trilha e procurar ajuda? A resposta não é tão simples quanto parece.

 

Sobrevoávamos um grande trecho de floresta, quase inacessível e de repente o avião apresentou pane no motor. O piloto avisou que tinha de fazer um pouso de emergência em alguma clareira. Meu estômago gelou e pude ver o medo desfigurar o rosto de cada uma daquelas pessoas ao meu lado.

 

Como empresário experiente, a vida já havia pregado muitos insucessos, mas nenhum me mostrara a face da morte. E deixar minha família sem a minha presença era o que mais apertava o coração. A diretora de recursos humanos e o consultor técnico da minha empresa também já tinham feito aquela viagem outras vezes, porém nunca haviam vivenciado um susto sequer. Restavam-nos a sorte e a habilidade do piloto em conseguir pousar por entre árvores enormes, sem um choque fatal. Era um sujeito maduro, que gostava do que fazia, mas aparentava, naquele momento, um certo pânico.

 

O avião passou rente ao mato sobre uma lâmina d’água, tocou a terra e deslizou para dentro da floresta. Perdeu as asas no impacto com as árvores, fazendo barulho de lataria retorcida. A cabine enfiou-se por entre folhas e galhos pequenos. Por sorte, não batera em nenhum obstáculo mais sólido; por sorte, escapamos todos com ferimentos leves, mas grandes machucados por dentro, de pavor e incredulidade.

 

Demorou um tempo para que nos refizéssemos do susto. Começamos a sair devagar de dentro da fuselagem porque não víamos qualquer sinal de incêndio a bordo. Havia uma mistura de alívio e de constante preocupação em saber se todos estavam bem, se ninguém estava machucado.

 

Bem, começava ali nosso drama. Sem um mapa a seguir e sem termos a menor ideia sobre onde estávamos, perguntamos várias vezes em voz alta: o que fazer? Ficar parados na esperança de que o resgate encontrasse o local da queda do avião ou abrir uma trilha na floresta à procura de um local mais aberto para sermos visto? O piloto nos passou apenas o que já ouvira em cursos e relatos de colegas que já haviam se perdido em lugares como aquele.  Aventurar-se naquela floresta desconhecida, na qual habitam animais venenosos e até onças, podia não ser uma boa ideia. Mas, também, ficar parado sem a possibilidade de ser visto poderia ser muito pior.

 

De imediato instalou-se uma divisão de opiniões. Tanto eu quanto a diretora achávamos que devíamos ficar por ali e deixar um pouco dos restos do avião à mostra; mas, o nosso técnico e o piloto achavam que devíamos procurar uma clareira, um lugar para sermos vistos mais facilmente, uma oportunidade melhor de escapar. Diante do impasse, sentei-me e respirei um pouco, tentando me alegrar por estar vivo, embora sabendo que não estava a salvo ainda.

 

Joseph, o piloto, insistiu: – Ficar parado nos deixa a mercê do destino. Janyne, a diretora de recursos humanos rebateu: – Estabelecer uma base nem sempre significa cessar os movimentos. Podemos nos fortalecer um pouco e pensar com calma em mais alternativas… Sim, disse o técnico Muriel, quem sabe, dois possam fazer incursões pela floresta, enquanto dois ficam aqui, procurando dar visibilidade aos restos do avião.

 

A preocupação de cada um era para com a maneira apropriada de agir e eu achava que deveria ter melhores ideias, afinal, era o dono da empresa. Mas, nada vinha à minha cabeça, nenhuma solução. Vieram-me as lembranças de quantas vezes estivera em situação crítica com minha empresa ao longo dos anos. O mercado sempre mudava, as pessoas adotavam novos hábitos de consumo, a concorrência feroz ameaçava constantemente, o governo vez por outra trocava e revirava a economia para enfrentar a recessão… Como empresário “de visão” eu achava que tinha as melhores soluções, mas as inovações nem sempre funcionam como a gente espera, os investimentos nem sempre dão retorno. Às vezes, não se mexer muito era tão arriscado quanto querer avançar. Simplesmente, aguardar bons tempos também pode desgastar o poder de recuperação de qualquer empreendimento.

 

Embora a ideia de fazer incursões ganhasse força entre nós, precisava ser adiada porque logo começou a escurecer. Não dava para sair pela floresta no escuro. Organizamos lugares para nos deitarmos, em meio ao calor húmido e aos mosquitos, junto aos destroços do avião, que era pequeno demais para caber os quatros. Janyne ficou com o lugar mais protegido. Ouvimos muitos barulhos estranhos e percebi que, assim como eu, todos estavam assustados feito crianças no escuro da noite. Nem sequer conseguimos fazer um fogo, devido a humidade do solo e das folhas.

 

O dia mal clareou e estávamos acordados, muito doloridos e ressacados da noite mal dormida. Mas, a minha vontade de sobreviver parecia se fortalecer diante da angústia de não ter ouvido nenhum barulho de nave que estivesse nos procurando. E talvez tenha sido essa vontade que me fez pensar em uma maneira de pedir ajuda. Expliquei aos demais integrantes do grupo: pegamos pequenos pedaços da fuselagem do avião, as partes brilhosas, amarramos em galhos desfolhados e os colocamos para fora da copa de algumas árvores no perímetro de algumas dezenas de metros. Eles poderão ser vistos por algum piloto que passar sobrevoando por aqui.

 

O que, para os outros, parecia ser uma ideia de ação que poderia dar resultado, para mim era um estratégico… pedido de ajuda. Nas crises que minhas empresas anteriores enfrentaram, se eu tivesse feito isso, levantado a mão e acenado com um pedido de ajuda, talvez tivesse conseguido recuperá-las ou evitado ter de vende-las com enormes prejuízos, para recomeçar praticamente do zero.

 

Ficar parado ou avançar, depende muito da verdade de cada um, dizem os filósofos… de como vemos a situação, os recursos disponíveis, o entorno com suas adversidades. O resultado depende muito de como vemos o mundo, porque é essa visão que norteia nossas atitudes, consequentemente, nossas ações.  Apegar-se ao orgulho ou pedir ajuda também.

 

Passamos a manhã inteira fazendo esse trabalho: uns recolhendo galhos e limpando-os, outros recolhendo cipós e pedaços da lanternagem do avião. Coube à Muriel, o mais jovem e mais magro, subir nas árvores e amarrar nossos pedidos de ajuda. E no final daquele mesmo dia, foi com alívio que ouvimos um helicóptero se aproximar; acenamos de uma pequena clareia e fomos resgatados por cestos coletores.

 

As façanhas e os méritos daquele grupo foram bastante divulgados pela imprensa, mas não tiveram nenhuma importância para mim, porque a partir de então eu tinha uma nova e eficiente estratégia de atuação para meus empreendimentos: saber pedir ajuda quando se faz necessário. Simples assim, mas tão difícil quando vivemos em um ambiente no qual o orgulho do sucesso é o que prevalece.

Ludonarrativas

O ímpeto de empreender e sobreviver com intuição

Mandhuhai e os três modos de enfrentar uma batalha

No confronto, saber errar pode ser uma boa estratégia

Empreendedor do improvável na tribo dos Cree

Como ter controle quando uma ameaça nos espreita?

Enfrentar o deserto e contar com o improvável

Como lidar com a força impiedosa das águas?

Enfrentar o desconhecido: riscos e incertezas

Evitar o confronto para vencer o conflito

Esperar ou seguir adiante: a verdade de cada um

Uma pequena lição de guerra tornou-me empreendedor…

O talento de ver o essencial nas pessoas

Crescimento nem sempre significa fortalecimento

Aprendi como o coletivo supera planejamentos

Quando a vida depende de decisões de risco

Não há sorriso fácil para quem quer empreender

Gestão de pessoas se fortalece na confiança

Dinadan e os bárbaros: a grande ameaça

Capitão Squall: liderar em águas revoltas


Ludonarrativas

Ludoestratégias

Artigos Científicos

Ludoaprendizagens

Ludoarqueologia

Ludicidades

Núcleo de Criação de Jogos (NCJog)


Revista Científica
Revista Temática

artesejogos.com.br
Ludosofia.com.br © Copyright 2019 - Todos os direitos reservados