Postado em: 30 de agosto, 2018.
Jovens empreendedores veem oportunidade em todos os lugares e costumam ter ímpeto para investir, juntando seus idealismos com o desejo de lucrar em suas empreitadas. Com Robert Teixeira não era diferente: sua estratégia era espalhar pequenos empreendimentos em diferentes lugares do país. E em uma de suas viagens de carro por lugarejos interioranos, o jovem empresário chegou quase que por acaso a uma cidade pequena e fora da rota de passagens da região.
Tradicional como tantas outras, a rua principal terminava na praça onde ficava a igreja matriz, ladeada por pequenas mercearias, prefeitura, delegacia e um tranquilo posto de gasolina. Foi lá que Robert teve contato com os primeiros habitantes do lugar.
Um jovem bombeiro o atendeu cordialmente; na pequena loja de conveniência, uma mulher foi bastante solícita e o adolescente que se ofereceu para limpar o para-brisas do carro era bem jeitoso. Porém, o empresário percebeu um aspecto: nenhum deles sorria. Eram cordiais, mas tinham semblante fechado; falavam e respondiam, mas não esboçavam nenhum sorriso. Parecia estarem gratos, mas não felizes, essa foi a impressão que Robert teve de imediato.
Saindo do posto o jovem empreendedor resolve parar adiante, numa das mercearias, mais para verificar sua impressão do que para comprar algo de que necessitava. Um sujeito que carregava algumas mercadorias para dentro da loja o cumprimentou, meio sisudo. O senhor que o atendeu no balcão foi até bastante cordial e uma compradora respondeu seu bom dia de forma agradável. Porém, ninguém desenhou um sorriso sequer. Nem mesmo quando Roberto brincou com os chifres de boi dependurados numa prateleira; o atendente pareceu compreender a ironia, mas não sorriu.
Robert saiu até a calçada em direção ao carro, olhou para a cidade quase vazia naquele horário de sol forte e pensou: talvez aí esteja uma boa oportunidade, trazer um pouco de alegria para este lugar. Veio-lhe de imediato a ideia de mandar um circo para a cidade. Estaria contribuindo com a felicidade daquela gente e poderia ganhar um bom dinheiro.
Mal chegou de volta à sua empresa, na capital e tratou de convocar seu assessor para que providenciasse a contratação de um circo popular a ser enviado ao lugarejo. Fizeram contato com o proprietário do circo, acertaram os detalhes e Robert ainda foi enfático com o dono: levem o que há de mais divertido e alegre nas suas apresentações, pois aquele povo precisa sorrir um pouco.
Transcorrido o mês, o jovem empresário quase já havia esquecido da empreitada que havia providenciado para a cidade. E tratou de ligar para o proprietário do circo, a fim de saber da rentabilidade do seu empreendimento. Para sua surpresa, recebeu uma resposta que o surpreendeu: o circo havia sido um fracasso, quase nenhum morador comparecera aos espetáculos. O proprietário disse que tinha feito de tudo: “levamos nosso empanado mais novo e colorido; os melhores palhaços e alguns animais adestrados; fizemos desfile pelas ruas exibindo os malabaristas, colocamos até um preço bastante acessível com promoção para crianças, mas não sei porque, não houve interesse dos moradores. O senhor tem razão, eles não conseguem sorrir para nada…”.
Nem todo empreendimento dá certo, e Robert precisava saber o motivo. Não era possível que uma cidade inteira não gostasse de alegria, de se divertir e sorrir. Sabia que sua ideia tinha sido boa e generosa, mas não conseguia compreender o porquê do fracasso. Até que seu assessor trouxe, alguns dias depois, alguém que havia morado na cidade. Uma jovem universitária, filha de moradores de lá, tinha vindo para a capital ainda pequena e parecia ser um pouco mais sorridente que os demais habitantes daquele lugar.
O depoimento da jovem foi contundente e fez de imediato Robert perceber qual havia sido seu erro: achar que resolveria a falta de sorrisos na cidade com um circo, por mais divertido que este fosse. Não procurou ouvir os moradores, confiou apenas no seu ponto de vista. A jovem explicou: há muitas décadas houve um derramamento de produtos químicos no principal rio da região que abastecia a cidade. Isso afetou, principalmente a dentição dos moradores; crianças nasciam com deformações dentárias; cresciam como se tivessem dentes defeituosos, amarelos demais e quebradiços. Por isso, há várias gerações as pessoas não sorriem. Elas têm vergonha de mostrar os dentes, por mais felizes que estejam. Ela diz que viu seus pais cresceram evitando coisas que os fizessem sorrir, pois não gostavam da reação das pessoas ao perceberem uma dentição visivelmente desagradável.
Robert agradeceu a boa vontade da jovem e refletiu sobre seu ímpeto de achar que tinha uma solução lucrativa para aquele povo: nenhum empreendimento tem sucesso por si só; ele deve emanar das necessidades intrínsecas das pessoas. A solução para o que o outro necessita é o que podemos oferecer de melhor; e se não houver verdade na oferta, ela não despertará a satisfação pessoal. O que aquela gente precisava era de tratamentos dentários apropriados, e se tivesse percebido isso antes, poderia ter investido logo em uma outra ação oportuna e lucrativa.
O jovem empresário confessou ao seu assessor: “muitas vezes as aparências enganam. Precisamos saber se estamos olhando para a essência das coisas, se de fato compreendemos as pessoas. Meus erros me trarão maturidade, porém, preciso realmente aprender com eles”. Mesmo assim, Robert não se interessou em levar consultório odontológico à cidade. Isso lhe parecia mais ação social do que empreendimento…