Ludosofia

×
Home Quem somos Ludoaprendizagens Ludoarqueologia Artigos Científicos Ludonarrativas Ludoestratégias Ludicidades NCJog Contato
☰
  • Home
  • Quem Somos
  • Ludonarrativas Ludoestratégias NCJog Ludicidades
  • Ludoaprendizagens Ludoarqueologia Artigos Científicos Ludicidades
  • Contato

O ímpeto de empreender e sobreviver com intuição

jeu augmc augmentin 500mg €116.87




Postado em: 27 de outubro, 2019.    

Os tempos da guerra haviam ficado para trás. Depois de um ano e meio de missões perigosas contra inimigos imprevisíveis, aprendi que a intuição é uma qualidade preciosa mediante decisões de risco e de sobrevivência. Não bastassem os confrontos era preciso lidar com os ataques surpresa, minas terrestres e atiradores solitários. Trouxe comigo as lições mais dolorosas, talvez isso tenha permitido tornar-me um profissional experiente e menos racional.

 

Em uma das férias de minha família fomos visitar meu irmão mais novo, que se mudara para o sítio de nossos pais, já falecidos. Ele também estava travando a sua luta, aprendendo a lidar com a terra, uma plantação que começara a lhe render sobrevivência junto a mulher e os filhos. Pelo que entendi, tinha seus lucros, mas ainda os considerava insuficientes.

 

Fomos recebidos com muita alegria e em poucos dias eu estava afeito sobre seu empreendimento: uma plantação de médio porte que necessitava de cuidados com água e as pragas que assolavam as plantações. No fim das contas, percebi, meu irmão conseguia ter um rendimento de 70 por cento da produção, enquanto os 30 por cento restantes eram consumidos pela praga de uma espécie nativa de insetos.

 

Estava tudo normal, não fosse por um detalhe. Em uma visita ao seu galpão de materiais percebi uma grande quantidade de sacos plásticos. Estavam cheios de pesticida. Consultei meu irmão e ele disse que estava aprendendo a manusear aquele veneno, uma vez que, ao utilizá-lo conseguiria praticamente cem por cento da produção. O veneno era eficiente para acabar com aquela e outras pragas.

 

Ao ouvir seus planos, respirei profundamente e sabia que não bastava dizer o quanto o uso do pesticida era perigoso. Conhecia sua visão pragmática das coisas, suas tomadas de decisões irredutíveis, por isso, apelei para uma alternativa e comecei a contar-lhe uma das minhas missões de guerra. Ele me ouviu com atenção:

 

Meu pelotão estava à caça de grupos de inimigos que se escondiam em vilas e de lá faziam ataques às bases militares. Nossa missão era vasculhar essas vilas e exterminar esses guerrilheiros.

 

Chegamos numa vila que parecia abandonada, cheia de casebres e somente um ou outro cachorro vagando por ali. Fizemos observações com binóculos e não vimos nenhuma movimentação de pessoas. Mas, nossos observadores disseram que havia gente por ali, pois puderam captar indícios e vultos, barulhos e rastros.

 

Posicionamo-nos em um lugar estratégico de proteção, mas também apropriado para um ataque. Devíamos organizar uma varredura que não nos colocasse um perigo e nos permitisse dizimar qualquer grupo de guerrilheiros que pudesse nos ameaçar.

 

Um dos nossos observadores disse ter percebido movimento em um conjunto de casas. Pensamos de imediato em fazer um ataque em grupo, mas havia sempre o receio de uma emboscada fatal.  Por isso, nossa ideia era lançar bombas ou mesmo, usar lança-chamas, queimar tudo. Quando os inimigos saíssem seriam metralhados facilmente.

 

Não queria mais baixas em nosso grupo e nem ataques surpresa à nossa base, por isso a missão tinha que ser bem-sucedida. Estávamos esgotados depois de um ano e meio de confrontos e todos desejávamos voltar para casa.

 

Quase que autorizei um ataque com lança-chamas, poderia nos poupar do desgaste da espera ali, naquele lugar inóspito, frio, úmido e malcheiroso. Mas, me contive no último segundo. Minha intuição parecia me dizer algo; pressentimentos vinha em lampejos e titubeei por instantes.

 

Pedi um pouco mais de paciência ao meu pelotão. O dia mal amanhecera, aproximei-me mais da entrada daquele amontoado de casas em ruínas. Num canto vi uma pequena bola de couro, meio murcha, que devia ter pertencido às crianças daquele lugar. Peguei a bola, instintivamente e a arremessei até a entrada de uma das casas. Fiquei imóvel, tal qual meus soldados, que aproveitavam para descansar da tensão da noite.

 

Com os primeiros raios de sol, também vi movimento numa das janelas. Apontei minha arma e fiquei a espreita. Uma cabeça surgiu… era uma criança de pouco mais de oito anos. Olhou para um lado e para outro, pulou a janela, correu até a rua e pegou a bola. Demonstrou uma alegria ingênua… Uma mulher apareceu na janela e, desesperada, chamou o menino de volta. Deu uns tapas nele e o empurrou para dentro com a bola e tudo.

 

Minha intuição estava certa: havia civis ali e teríamos carbonizados aquela mulher e sua criança com quem mais estivesse em casa, na noite anterior. Também não podia simplesmente levar o pelotão embora, sem ter certeza de que aquela não era uma toca de soldados inimigos. Mais uma vez, por instinto, aproximei-me sorrateiramente até próximo, sob o olhar espantado de alguns dos meus homens. Pedi cobertura e quando estava protegido para evitar receber um tiro de dentro da casa, gritei. Disse que éramos da patrulha e que não queríamos fazer mal, somente ter certeza de que o lugar estava limpo. Ninguém apareceu. Gritei novamente e ameacei entrar na casa com os soldados.

 

Uma mão se estendeu para fora. Era a mulher que acenava em sinal de que nos atenderia. Ela saiu abraçada com o filho, muito assustada e o menino chorando. Perguntei se havia mais alguém em casa, ela disse que sim, seus parentes, mas que não atirasse, pois todos poderiam morrer com a explosão.

 

Chamei meus homens, coloquei-os em posição e juntamente com mais dois, entrei na casa. Vi pobres coitados recolhidos em camas improvisadas, velhos doentes, mães jovens com bebês, com certeza, filhos de soldados que as violentaram, pois os homens do lugar, há muito tempo haviam sido recrutados à força. Era a realidade daquela região do país.

 

Voltei-me para a mulher e perguntei o que queria dizer com as explosões. E ela me levou a vários corredores por entre as casas. Havia bombas armadas e interligadas por uma fiação. Os inimigos tinham deixado uma armadilha e aqueles pobres coitados não tinham para onde ir senão conviver com aquela iminência de explosões, que fatalmente, também nos teriam afetado. Demorou, mas conseguimos desativar as bombas. Há semanas que os soldados inimigos haviam estado ali e tinham ido embora.

 

Aos poucos, nossa base ampliou sua varredura para além daquela vila. E o povo daquele lugar ganhou mais um halo de esperança para refazer a vida com o que tinha sobrado. Foram salvos, tenho certeza, pela minha intuição.

 

E vejo aqui, meu irmão, a mesma situação: você vai fazer um ataque maciço e vai matar as pragas, mas também todas as outras espécies de insetos que coabitam essa área. Inclusive aquelas que polinizam as flores, permitem a reprodução e existência de espécies de muitas outras plantas. O veneno vai também enfraquecer o solo e você precisará repor artificialmente os nutrientes; aos poucos, problemas aparecerão em você e na sua família.

 

Portanto, minha intuição diz que não se mata uma praga de insetos extinguindo outras espécies que não são nocivas. Isso inviabiliza o ecossistema e provoca desequilíbrios. O veneno, como aquela minha opção de ataque, poderá matar as pragas, mas acabar com tudo o que você já construiu até aqui.

 

Talvez, quando sua propriedade aumentar e a sua produção for grande, você já tenha adquirido experiência e condições para lidar com esse veneno, em segurança. Seja paciente e use a intuição, ela é uma sabedoria baseada na experiência, na vivência das lutas que travamos. Um empreendimento requer mais do que pragmatismo, racionalidade e técnica

 

Uma semana depois fomos embora com a promessa do meu irmão de que não utilizaria os pesticidas tão cedo. Um ano depois, lá estava ele, convidando-me com minha família a passar novamente parte das férias lá. Havia crescido um pouco mais, melhorado as condições de vida, e ainda não fizera nenhum ataque intempestivo às pragas da plantação.

Ludonarrativas

O ímpeto de empreender e sobreviver com intuição

Mandhuhai e os três modos de enfrentar uma batalha

No confronto, saber errar pode ser uma boa estratégia

Empreendedor do improvável na tribo dos Cree

Como ter controle quando uma ameaça nos espreita?

Enfrentar o deserto e contar com o improvável

Como lidar com a força impiedosa das águas?

Enfrentar o desconhecido: riscos e incertezas

Evitar o confronto para vencer o conflito

Esperar ou seguir adiante: a verdade de cada um

Uma pequena lição de guerra tornou-me empreendedor…

O talento de ver o essencial nas pessoas

Crescimento nem sempre significa fortalecimento

Aprendi como o coletivo supera planejamentos

Quando a vida depende de decisões de risco

Não há sorriso fácil para quem quer empreender

Gestão de pessoas se fortalece na confiança

Dinadan e os bárbaros: a grande ameaça

Capitão Squall: liderar em águas revoltas


Ludonarrativas

Ludoestratégias

Artigos Científicos

Ludoaprendizagens

Ludoarqueologia

Ludicidades

Núcleo de Criação de Jogos (NCJog)


Revista Científica
Revista Temática

artesejogos.com.br
Ludosofia.com.br © Copyright 2019 - Todos os direitos reservados