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A complexidade competitiva de Cyclades em um modelo de gestão de riscos e erros

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Postado em: 19 de março, 2020.    

A tensão bélica da Grécia antiga é a base desse jogo de tabuleiro no qual exercemos um empreendedorismo de constantes riscos, aprendendo como os erros, enganos e esquecimentos podem ser fatais. Mas, nele é possível adotarmos gestões administrativas pela guerra ou pela paz, contanto que enfrentemos os conflitos com perspicácia e sabedoria. Cyclades é um jogo de tabuleiro moderno que deve ser experimentado por todos aqueles que precisam compreender e dominar a gestão de pessoas e recursos nos mercados competitivos, utilizando um esquema de avaliação de riscos, como, por exemplo, o Modelo de queijo suíço.

 

“No arquipélago das Cíclades, na costa de uma Grécia ainda desunida, as grandes cidades (esparta, Atenas, Corinto, Tebas e Argos) estão se expandindo e lutando entre si para estabelecer sua supremacia sob o olhar benevolente dos deuses” – essa é a narrativa inicial do jogo, que simula a vida na Grécia daquela época, com suas acirradas disputas pelo controle das ilhas e com a ajuda dos deuses que estão disponíveis a cada um doe nós, jogadores nos ciclos que se sucedem.

 

Para construir duas metrópoles no arquipélago grego e se tornar vencedor, precisamos saber usar os favores dos deuses daquela cultura:  Ares permite o movimento dos exércitos e ajuda na construção de fortalezas; Poseidon garante que os jogadores movam suas esquadras de navios e construa portos; Zeus controla a obediência dos sacerdotes e a construção de templos; Athena proporciona filósofos e a construção de universidades; e Apollo oferece aumento de renda e riqueza para todos que o procuram.

 

Mas, a Grécia não vivia somente de deuses. Havia criaturas mitológicas que podem ser acionadas e manipuladas no jogo, tanto para o ataque quanto para a defesa dos exércitos, das esquadras, das ilhas e construções de nossos empreendimentos. Por isso, precisamos estar atentos e desenvolvermos as estratégias certas: de ataque, para conseguir maior domínio de ilhas; de defesa para proteger o patrimônio em construção; de ameaça para segurar o ímpeto dos adversários; ou mesmo, surpreender pelo caminho pacífico construído pelos filósofos disponíveis a qualquer jogador.
 
Nessa análise de ludoestratégia adotamos parcialmente o Modelo do queijo suíço, para compreensão de como os erros e fracassos de gestão precisam ser levados em conta. A teoria que sustém esse modelo foi criada por James T. Reason, em 1990 e está resumida no Livro das decisões, de Roman Tschäppeler e Mikael Krogerus (Marcador Editora). Podemos perder o jogo pelos erros, esquecimentos e enganos, comuns aos gestores inexperientes, que se atrapalham com os processos estratégicos que precisam adotar. Por isso é importante estar atento às avaliações e feedbacks constantes que cada ciclo de ações fornece, permitindo-nos ajustes e retomadas de decisões.

 

Estrutura e funcionalidade de Cyclades

 

O jogo, comercializado no Brasil pela Galápagos jogos, consiste em um tabuleiro que reproduz uma parte do arquipélago grego, com diversas ilhas em tamanhos diferentes, espalhadas dentro do grande círculo. Podem ser utilizados vários lados do tabuleiro de acordo com o número de jogadores (2, 3, 4 ou 5). Cada jogador recebe seu conjunto de 8 miniaturas de soldados e 8 miniaturas de navios da cor de sua escolha – dois soldados e dois navios são colocados no arquipélago em posições previamente definidas pelo setup do jogo; recebe, ainda, 5 moedas, 1 marcador de oferendas, 1 escudo de marcação. Porém, existe uma reserva de moedas e de símbolos de cornucópias que podem ser adquiridos, como forma de capitalização por parte dos jogadores.
 

Capa de Cyclades e o tabuleiro montado para início de uma partida
 
Em um espaço na parte lateral do arquipélago posicionam-se as criaturas mitológicas de modo que possam ser baixadas e disponibilizadas para aquisição durante o jogo, num rodízio que vai de uma pilha de cartas à uma pilha de descartes. Ao lado, ficam miniaturas de algumas dessas criaturas que podem se movimentar para dentro do arquipélago, interferindo na partida. Dentro do tabuleiro também já existe demarcado o lugar da pilha de filósofos e da pilha de sacerdotes para serem requisitados pelos jogadores, conforme suas opções de estratégias.

 

Abaixo do espaço de seres mitológicos fica a coluna mais larga onde são colocados, um abaixo do outro, as fichas dos deuses. Somente o deus Apollo tem posição fixa na parte final da coluna. Os demais deuses são misturados no final de cada ciclo, revelando-se em posições diferentes e proporcionando equilíbrio de escolha na sequência da vez de cada jogador.

 

O jogo tem vários ciclos e o objetivo maior de cada participante é conseguir construir duas metrópoles no final de um desses ciclos, oportunidade em que se sagra vencedor da partida.

 

Seguindo uma ordem que se modifica a cada ciclo, o jogador, na sua vez, pode realizar várias ações, que são permitidas por um dos deuses de sua escolha. Apenas Apollo, que tem posição permanente, se restringe a oferecer moedas ou cornucópias para aumento de poder aquisitivo. Os demais deuses podem proporcionar a convocação de uma ou mais criaturas mitológicas com seus poderes específicos para atuação imediata; oferta de filósofos ou sacerdotes; recrutamento de exército para ocupar espaços nas ilhas ocupadas ou adjacentes; construção de monumentos como fortaleza, templo, universidade, porto (a aquisição de quatro deles permite que se construa de imediato uma metrópole), além de ações especiais como mover tropas ou aumentar a frota de navios.

 

No decorrer do jogo é possível ao jogador fazer diversos movimentos e acionamentos, tais como: usar seu exército para invadir ilhas de seus vizinhos, provocando um confronto cuja vitória depende da força bélica de cada um – nesse caso, dados são rolados para verificar quem tem maior poder de ação bélica; ampliar número de navios da frota para confrontos ou trânsito de uma ilha para outra; acionar criaturas mitológicas que estão nas cartas ou que estão representadas por miniaturas, para destruir exército inteiro de uma ilha, como forma de ataque ou de defesa; mas, também, é possível a qualquer jogador apenas proteger seu patrimônio com exércitos, frotas e criaturas, conquistando a vitória com ajuda de filósofos de seu conjunto de cartas acumuladas ou adquiridas em oportunas jogadas que surpreendem os adversários. A cada quatro filósofos arregimentados, tem-se direito a uma metrópole, e com duas conquistas dessa, como foi dito, ganha-se o jogo.

 

Entretanto, é preciso perceber que as ações de cada jogador são todas monitoradas pelos adversários. Uma vez que, somente as moedas do jogador ficam escondidas atrás de pequenos biombos, todos os participantes estão acompanhando as ações dos demais, tentando, inclusive, atrapalhá-las. É possível ao jogador conseguir posições sólidas ou atrasar suas decisões e acumular riquezas, para agir de forma a surpreender a todos.

 

As lições de gestão empreendedora

 

As comparações desse belíssimo jogo de tabuleiro com a realidade do mercado contemporâneo são imediatas, ao mesmo tempo em que, embora existam algumas situações que dependem de sorte, em sua maior parte, as atuações e decisões, bem como a deliberação de estratégias é que, geralmente, nos permite ser bem ou mal sucedidos.

 

Dificilmente uma estratégia que definimos desde o começo é garantia de melhores conquistas e posicionamentos. Por isso, precisamos ter flexibilidade de pensamento a partir de uma visão sistêmica da partida. Cada ciclo pode ser definido por metas a serem alcançadas: conseguir mais exército ou frota para situarmo-nos com mais poder de força; adquirirmos um ou dois filósofos para, quem sabe no próximo ciclo completar os quatro exigidos e conquistar uma metrópole; arregimentarmos sacerdotes que permitem a compra de componentes por menor quantidade de moedas; ou mesmo conseguirmos uma criatura mitológica de peso que abrirá certa vantagem diante dos adversários.
 

Equipe de Ludosofia pesquisando os detalhes de jogabilidade e as analogias do jogo
 
O delineamento dessas metas nos auxilia na definição de estratégias que podem ser cumpridas ou reordenadas em outras mais eficazes, e isso depende de decisões oportunas, após nossas ações deliberadas. Portanto, é sempre possível potencializarmos forças e diversificarmos possibilidades de decisões a partir de como a partida está se configurando. Cada jogada dos adversários exige, de nossa parte, uma observação atenta e avaliação dos próprios posicionamentos.
 
O que faz os gestores errarem: modelo do queijo suíço

 

Em qualquer empreendimento de tensão e risco, cometemos pequenos erros e enganos, que são passíveis de serem corrigidos em tempo. Porém, quando uma sequência desses erros se alinha no processo geral de gestão, o resultado é sempre catastrófico. E no jogo Cyclades percebemos isso com clareza.

 

O modelo do queijo suíço, de James T. Reason, mostra como se formam os erros humanos: ao fatiarmos um queijo do tipo Emmental, como se fosse a realidade, encontramos muitos buracos em locais diferentes – esse buracos são canais para os erros pequenos, quando se trata de uma fatia apenas. Porém, se tais buracos ficarem alinhados em uma sequência de fatias, o erro vai se estender por todo o processo de gestão.

 

Conforme demonstrado por Roman Tschäppeler e Mikael Krogerus, existem vários tipos de erros: a) os verdadeiros erros, que acontecem quando seguimos o processo errado; b) os esquecimentos, quando não lembramos de parte do processo; c) os enganos, que acontecem quando o processo certo é incorretamente seguido. Essas situações estão distribuídas em, pelo menos, três níveis: das competências, das regras e do conhecimento.

 

Para se dar bem em um jogo como Cyclades precisamos dominar todo o processo de uma partida, identificando o que podemos fazer em cada uma das possíveis ações. Seguir o processo errado, como por exemplo, apostar nos benefícios de um dos deuses sem observarmos que não temos dinheiro suficiente para pagar, é um erro grave. O processo correto exige que estejamos o tempo todo conferindo quanto temos de moedas e que ações podemos realizar com esse capital.

 

As regras do jogo nos são colocadas desde que aprendemos a jogar Cyclades e não podemos esquecer dos detalhes dessas regras. Se esquecemos quais cartas de criaturas estão disponíveis aos adversários e que podem ser usadas contra nossas defesas, acabamos por ser surpreendidos de forma devastadora. Nossa memória deve nos auxiliar sobre o que aconteceu em momentos anteriores do jogo, quais as ações foram realizadas pelos adversários, para que possamos nos precaver de uma ataque iminente, por exemplo.

 

Pequenos enganos também podem ser críticos em uma partida de Cyclades: mesmo quando estamos seguindo o processo corretamente e temos várias escolhas a fazer para executar um plano estratégico, como por exemplo, apostar na conquista de uma carta de um filósofo sem considerar que o jogador imediatamente anterior esta prestes a conquista-la primeiro. Deveríamos considerar essa possibilidade e adotar uma alternativa para não ficar no prejuízo.

 

Ser mais agressivo nas ações de ataque competitivo, ser mais defensivo na proteção de posições conquistadas, articular ações de fortalecimento das receitas e aquisição de seres mitológicos com propriedades específicas de defesa ou de ataque; conquistar monumentos a partir de diferentes possibilidades – essas e outras ações vão sendo sincronizadas de acordo com o fluxo de posicionamentos e atitudes dos demais participantes. E quem aprende a ter maior capacidade de percepção sistêmica, visão geral do panorama, compressão de possibilidade dos fluxos de atuação, passa a cometer o mínimo de erros e pode tomar as melhores decisões, se não para vencer sozinho o jogo, ao menos para não ser destroçado pelo ataque dos adversários.

 

Vencer a partida é sempre uma satisfação especial, porém, é também gratificante perceber que conseguimos lidar com a pressão dos concorrentes, a tensão das jogadas, e que nos mantivemos no confronto intenso do mercado até o final da partida, com possibilidade vencer. Afinal, assim como na vida e no mercado competitivo, não é uma batalha que define o sucesso de um empreendedor – a sequência de partidas em que aprendemos com algumas derrotas, nos capacita a ter experiência para alcançar vitórias nas próximas oportunidades.

 

A jornada de um empreendedor é feita de riscos e erros, fracassos e sucessos. Nesses jogos abstratos, nossa mente aprender a pensar em padrões, a levar em conta o inesperado, a esperar o momento certo para perceber e tomar as melhores decisões, mesmo em situação de perigo ou desequilíbrio. Como dizem os grandes mestres, as vitórias ocorrem primeiro na mente de um jogador.

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