Postado em: 25 de novembro, 2019.
Nos jogos cooperativos, assim como nas equipes das empresas ou instituições, as ações individuais dos jogadores impactam diretamente no resultado; o mesmo ocorre em situações de crise ou grande risco. Agir estratégica e coletivamente fará toda a diferença para vencer os desafios e, no caso do jogo Pandemic, salvar a humanidade da extinção por contaminação provocada por quatro vírus mortais, ainda sem cura.
No jogo, você e seus amigos integram uma equipe de profissionais diversos, cada um com sua especialidade, que estão trabalhando na linha de frente para conter esta epidemia que está se espalhando rapidamente por todos os países do mundo. Esta é a narrativa de Pandemic, um jogo para dois a quatro jogadores que leva a experiência cooperativa ao extremo, com uma temática bastante próxima da realidade, que o torna ainda mais engajador.
Personagens de Pandemic (imagem: divulgação)
Os conflitos gerados no decorrer da partida provocam debates coletivos, com análise de riscos e projeções que buscam antecipar as ações do tabuleiro: do mesmo modo surgem em empresas os planejamentos estratégicos. No jogo, tudo acontece de maneira rápida, quando os jogadores, atuando em seus personagens com habilidades especiais, assumem funções específicas em determinados momentos e decidem em conjunto como usar suas ações, da melhor forma possível, para evitar que o pior aconteça: a extinção da humanidade.
É um jogo ideal para demonstrar a importância de cada membro em um time, com analogias que servem para exemplificar a necessidade de cada integrante agir de acordo com a sua função, aprendendo a identificar e atender as demandas que são prioritárias. A infestação do ambiente do jogo com a contaminação das principais cidades do mundo, assim como a necessidade dos jogadores de se movimentarem pelo tabuleiro, fazem com que a limpeza das áreas afetadas, a construção de centros de pesquisa e a busca por uma cura diferente para cada vírus, sirvam também para demonstrar processos do trabalho em equipe.
Estrutura operacional e jogabilidade
O cenário é o mapa mundi, com um tabuleiro que lembra o clássico War, o que contribui para um aprendizado indireto de geografia, principalmente para os jogadores mais novos (a idade indicativa de Pandemic é a partir de 08 anos), com as principais cidades do mundo marcadas. As doenças são representadas por cores e a contaminação no tabuleiro é sinalizada por cubinhos coloridos, com uma cor específica para indicarr cada vírus.
Até aqui, parece que, no jogo, vencer doenças mortais é algo fácil, porém, Pandemic é tão desafiador quanto possível, já que há apenas uma maneira de vencer: descobrindo as quatro curas. Para perder o jogo, existem três opções: acabarem-se as cartas de jogo; acabarem-se os cubos de doença de qualquer uma das cores; ou se acontecerem 08 surtos de doenças (o que não é difícil). Ocorrendo um desses aspectos, a humanidade, assim como a partida do jogo, estará perdida.
Antes de começar, é preciso preparar o tabuleiro e dar início às infestações. Primeiro, abrimos o tabuleiro e colocamos ao lado, os centros de pesquisa e marcadores de contágio, separados por cores. Verificamos que existem diversas cidades pelo mundo onde acontecerão as infecções. Colocamos um centro de pesquisa na cidade de Atlanta, que será a base do CCPD, Centro de Controle e Prevenção de Doenças.
Depois, posicionamos os marcadores de surtos no zero e os marcadores de cura com o lado vazio para cima, em seus respectivos espaços no tabuleiro. O marcador de surto deverá avançar de acordo com o decorrer do jogo e, os marcadores de cura deverão ser virados para o lado cheio, assim que os jogadores conseguirem descobrí-las uma a uma. Apenas com essa breve explicação de configuração, é possível perceber que existem diversos fatores aos quais os jogadores deverão estar atentos, pois, salvar o mundo não será tarefa simples.
O marcador de velocidade de infecção deve ser colocado no primeiro círculo da velocidade 2, ele também irá avançar no decorrer do jogo, até que as curas sejam descobertas. Embaralhamos as cartas de infecção e puxamos 3 cartas. Colocamos 3 cubos de infecção em cada uma dessas cidades, com a respectiva cor. Puxamos mais 3 cartas e colocamos 2 cubos em cada cidade. Por fim, puxamos mais 3 cartas e colocamos um cubo de infecção em cada uma das cidades do tabuleiro. Disponibilizamos as 9 cartas de infecção utilizadas no monte do descarte, ao lado do monte do baralho de infecção.
No mesmo baralho de cartas de ação, que fornecem habilidades aos jogadores, estão cartas de Epidemia, que aceleram a contaminação e podem resultar em surtos simultâneos espalhados nas mais diferentes partes do mundo.
Como última etapa de configuração do tabuleiro, é preciso retirar as cartas de Epidemia do baralho. Então, as cartas serão embaralhadas e distribuídas aos jogadores de acordo com a quantidade: essa será a mão inicial de cada um. Após distribuir as cartas, precisamos posicionar as cartas de epidemia, de modo a ficarem distribuídas, separando o baralho em montes e colocando uma carta de Epidemia em cada uma dessas pilhas.
Embaralhamos cada monte separadamente e colocamos um por cima do outro, deixando as pilhas menores embaixo, garantindo que as cartas de Epidemia surjam gradativamente durante o jogo. Os jogadores, assim como os membros de qualquer equipe, não sabem exatamente quando surgirá um evento que irá exigir toda a sua atenção.
Este é um dos grandes fatores que impactam a experiência do jogo e estão diretamente relacionados com o trabalho em equipe, já que, sempre que uma carta de epidemia surge, ela realizará uma ação de contágio no tabuleiro e aumentará a velocidade de infecção, fazendo com que todos nos engajemos para não sermos derrotados.
Os personagens podem ser escolhidos ou sorteados. Escolher as funções é uma maneira de criar combos que facilitam e muito o jogo, ideal para partida com crianças e iniciantes. Ao sortear os personagens, os jogadores adicionam um fator sorte que pode dificultar um pouco mais a partida.
As funções dos personagens são as seguintes: Médico, que consegue melhores resultados tratando as cidades onde ele se encontra; Cientista, que precisa de menos cartas da cor da doença para descobrir sua cura; Pesquisador, que possui a habilidade de passar de um jogador para outro as cartas de doença, facilitando que um deles possa coletar a quantidade necessária para encontrar a cura; Especialista em Operações, que pode construir novas estações de pesquisa com apenas uma ação; Agente de Viagens, que pode mover os demais personagens, gastando apenas uma ação.
OBS: A versão do jogo de 2013 inclui dois personagens extras, que são o especialista em quarentena, capaz de impedir a colocação de marcadores de contágio na cidade onde estiver e nas cidades conectadas à ela; e o especialista em planos de contingência, que pode usar uma ação para pegar uma carta de evento já descartada e colocá-la na sua carta de função (a carta usada deste modo é removida de jogo, ao invés de ser descartada).
Alterando os níveis de dificuldade
Pandemic oferece 3 níveis de dificuldades: Iniciante, Padrão e Heróico. No nível Iniciante são utilizadas 4 cartas de epidemia; no Padrão, utilizamos 5 e no Heróico, 6. É interessante pensar que uma mesma equipe pode testar o desafio do jogo em diferentes níveis, sendo continuamente desafiador. Nós, jogadores também podemos escolher se desejamos jogar com as cartas de ação de cada jogador, reveladas ou ocultas. Caso optemos por ocultar as cartas, deveremos segurá-las em nossas mãos durante a partida.
Gestão de ações e controle de surtos durante o jogo
Em cada turno, um jogador deve comprar duas cartas do baralho de cartas de jogo e pode usar até quatro ações para movimentar-se, tratar doenças, construir centros de pesquisa ou pesquisar uma nova cura. Para viajar entre cidades, deverá seguir regras; existem 4 tipos de ações de movimento, descritas a seguir:
1. Automóvel/Balsa: o personagem desloca-se de uma cidade a outra, ligadas pela linha branca. As linhas nas bordas do mapa conectam cidades de um lado ao outro do mundo.
2. Voo Direto: é preciso descartar uma carta de cidade para ir até a cidade indicada na carta.
3. Voo Fretado: descarte a carta da cidade em que você se encontra para ir até uma cidade escolhida.
4. Ponte Aérea: vá de uma cidade que tenha um centro de pesquisa para outra que também tenha centro de pesquisa.
Seguindo estas regras de movimentação, os jogadores deverão escolher sabiamente quando realizar cada ação e quem a realizará. Em muitos momentos, esperar que o médico se desloque até uma cidade para tratá-la será inviável e, mesmo gastando mais ações para isso, algum outro personagem deverá fazê-lo. O mesmo acontece para encontrar uma cura ou construir um centro de pesquisa: nem sempre o personagem mais adequado está apto a resolver o problema no momento de urgência, o que faz com que todos precisem pensar juntos em soluções práticas.
É importante estar preparado para estratégias emergenciais, principalmente quando alguma cidade infectada está com dois ou mais marcadores de contágio, o que significa que ela pode entrar em surto no momento que atingir três marcadores de doença e, como já descrito acima, quando oito cidades entram em surto no decorrer da partida, o grupo perde o jogo.
O tempo inteiro o jogo exige a preocupação constante com estratégias coletivas. Estimula a consciência de pertencimento de um grupo, que precisa pensar e agir como uma equipe. A sensação de derrota iminente pode ser sentida após a primeira carta de epidemia surgir e até que a quarta cura seja efetivamente descoberta, não há sossego. A experiência de jogo proporcionada por Pandemic é, literalmente, uma luta conjunta contra o tempo e as adversidades, assim como é a experiência de vida de equipes que lidam com alto risco, cotidianamente.
Falando assim, não parece ser uma experiência divertida, já que o estresse sofrido pelos profissionais que lidam com níveis elevados de tensão pode causar diferentes problemas de saúde. Porém, é exatamente para desenvolver senso de pertencimento, análise de riscos e tomada de decisões, que jogos assim são tão importantes. São verdadeiras lições de vida porque, quem tem o prazer de jogar, ganhando ou perdendo, aprende bastante sobre si mesmo e sobre como agir em equipe.