Postado em: 15 de maio, 2019.
O jogo de tabuleiro Tokaido é uma viagem cheia de surpresas e humor zen, entre duas cidades do Japão antigo, Kyoto e Edo (atual Tokyo), pela lendária estrada East Sea Road. E, tanto quem chega primeiro quanto quem chega por último pode vencer a partida. Tudo depende da estratégia de aproveitamento da caminhada, que é feita em um belo tabuleiro com cartas ornamentadas em estilo nipônico.
Para sair vitorioso, vale o que você comeu de interessante pelo caminho, quantos e quais souvenir típicos conseguiu comprar, que diferentes viajantes encontrou, quais pitorescas paisagens aproveitou, quanto doou do seu escasso dinheiro aos templos, os banhos nas termas que aproveitou… O que importa nesse instigante jogo de tabuleiro, assim como na vida, conforme a sabedoria milenar, não é a chegada, mas o que você realizou e aproveitou durante a jornada.
Há sempre a possibilidade de se combinar oportunidade com planejamento, a partir das posições dos demais caminhantes, uma vez que todos percebem a vantagem de não se distanciarem um dos outros. E aqui já vai uma importante constatação: adiantar estações para se colocar mais à frente sem o devido cuidado, pode significar grandes prejuízos. Isso porque, no posicionamento dos viajantes na estrada, a vez de jogar é sempre de quem está por último, e se houver espaços livres na frente, este vai obter benefícios e continuar sendo o último, podendo jogar novamente.
O início da jornada
O jogo tem seu planejamento inicial quando cada jogador recebe, aleatoriamente, seu personagem de viagem e uma quantia pequena de moedas. É preciso que você esteja atento à habilidade do seu personagem, bem como ao momento em que deve fazer paradas em fazendas para obtenção de dinheiro. Ficar sem grana ao chegar numa estalagem impede qualquer um de comprar alimentos e acumular pontos para o final.
Detalhando melhor, o objetivo de cada viajante é coletar ou ordenar a maior quantidade que puder de objetos, comidas, visitas, encontros no percurso da viagem. As paradas em cada ponto da estrada podem render souvenirs, paisagens que são catalogadas em partes que se completam, conhecimento adquiridos nos encontros com outros viajantes diferentes dos demais jogadores, doações aos templos, degustação de comidas típicas japonesas. Essas aquisições é que vão fornecer a pontuação no final da jornada, aos quais são somados pontos de cartas especiais: três delas são conseguidas ao longo do jogo e mais três são dadas aos que completaram as melhores paisagens, tiveram mais encontros, obtiveram comidas especiais. Até as doações aos templos podem render pontuação; por fim, o viajante que tiver catalogado a maior quantidade de pontos será o vencedor da partida.
Setup do jogo
Faz parte da estratégia saber que nenhum viajante pode voltar na estrada; uma vez ocupada a casa, somente poderá ir para frente. Desse modo, a ação de cada jogador é mover o seu personagem viajante pela estrada e ao chegar na casa escolhida, executar o efeito daquele lugar, conforme as opções que já foram mostradas anteriormente.
A dinâmica do jogo em detalhes estratégicos
O trajeto entre Kyoto e Edo é composto por quatro paradas obrigatórias em hospedagens, nas quais todos devem descansar da caminhada e se alimentar ao mesmo tempo. E a dinâmica do jogo está justamente na entrada e saída dessas estalagens, dando complexidade a qualquer estratégia dos jogadores.
Ao chegar na hospedaria, cada viajante deve comprar cartas de refeição correspondentes ao número de jogadores mais um. O prato de comida proporciona seis pontos de vitória, além dos pontos extras se este tiver sido dos mais caros. Para isso é necessário que o jogador tenha chegado ao lugar com dinheiro no bolso; caso não tenha sabido economizar ou não tenha recuperado moedas, deixa de ganhar valiosos pontos de vitória.
A complexidade deste jogo de tabuleiro aumenta com as possibilidades de se obter cartas de conquista para rendimento de pontos extras na contagem final, quando todos tiverem chegado juntos à última estalagem, na cidade de Edo. Como adiantamos, três delas estavam à disposição, mediante objetivos alcançados no decorrer da viagem e mais três são dadas ao se conferir, no final da partida, algumas realizações feitas no percurso.
Detalhe da partida em andamento
Percebemos que essas cartas de conquista fazem parte das estratégias que adotamos desde o começo, e que podem ser reavaliadas constantemente. Não se pode conseguir todas elas, mas, é possível obter aquelas que mais interessam ao ordenamento da viagem. Em resumo: Cartas de Panorama – o primeiro jogador que montar uma paisagem completa ganha a carta bônus com três pontos; Carta Gourmet – é dada no final da jornada ao viajante que tiver gastado mais dinheiro em refeições; Carta de Banhista – recebe o bônus aquele jogador que visitou e acumulou maior quantidade de fontes termais; Carta Tagarela – ganha pontos extras o viajante que comprovar com suas cartas o maior número de encontros com personagens da estrada; e Carta de Colecionador – pontos a mais para quem obteve maior quantidade de souvenirs.
Tokaido é um pertinente exemplo de como um jogo de tabuleiro exige dos participantes a visão mais ampla possível da narrativa que compõe uma jornada cheia de acontecimentos, permitindo, por um lado, a composição de estratégias sobre o que fazer durante a viagem, e por outro lado, proporcionando oportunidades imediatas de ajustes no momento da ação. Isso porque, as decisões são tomadas a partir das ações dos demais jogadores que se movimentaram antes da sua vez.
O conjunto de elementos e conquistas que se vão formando à sua frente, com as cartas acumuladas e ordenadas no seu espaço, permitem um feedback imediato, que indica se suas estratégias estão de fato funcionando ou não. Como ocorre em qualquer empreendimento, mesmo estando em desvantagem em determinado momento da vida, é possível a cada um reavaliar o que fazer dali por diante, como conseguir resultados melhores a partir das decisões que se pode tomar para virar o jogo.
Um jogo de Antoine Bauza
Arte de Naiade
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