O Real Jogo do Ganso tem seus primeiros registros no final do século XVI, na Itália, a partir de onde espalhou-se para toda a Europa. Pode ser considerado o primeiro jogo de tabuleiro impresso, depois da invenção da prensa de Gutenberg, em meados do século XV. É reconhecido também como precursor da onda de jogos desse tipo, surgidos e jogados durante período georgiano e era vitoriana, do século XIX.

No contexto da classificação dos jogos de tabuleiro feita por Stewart Woods, estes tipos são considerados pertencentes aos jogos do mercado de massa, posteriores aos jogos tradicionais e clássicos surgidos na antiguidade, como Senet, Xadrez entre outros, e anteriores aos “hobby games”, surgidos em meados do século XX, que envolvem RPGs, jogos de cartas e eurogames (Ver resenha do livro: Eurogames).

O jogo do Ganso é composto por um tabuleiro cujos traçados formam um espiral no sentido do horário do relógio, cujo percurso vai da parte externa ao centro do tabuleiro, contendo 63 casas. Pode ser jogado por 2 a 4 jogadores, com uso de dois dados que fornecem o número de casas que um jogador deve se mover; a maior parte dessas casas representam ganhos ou punições para quem cair nelas. Um jogador pode passar a vez, retornar algumas casas ou mesmo ter que reiniciar a jornada, voltando ao começo. As casas dos gansos podem fazer um jogador mover-se um extra número de casas, porém, pode ser frente ou para trás, atrasando o percurso. Para vencer é preciso percorrer as 63 casas do tabuleiro e chegar primeiro que todos os oponentes, não havendo, portanto, nenhuma estratégia a ser planejada, mas tão somente, seguindo-se o acaso no lance dos dados.

Embora alguns estudiosos tentem fazer ligação do modelo do Jogo do Ganso com referências a peças encontradas na Grécia antiga, como o Disco de Phaitos, à Ordem dos Templários de 1118, a um jogo alemão do século XI, ou mesmo jogos parecidos provenientes da Índia e do Marrocos, não há comprovações concretas dessas origens. Certo mesmo é o fato de que seu nome, Real Jogo do Ganso diz respeito a sua presença em Florença, quando a Corte dos Médici alcançou a Espanha e Francisco de Médici, Grão Duque de Toscana presenteou o Rei Felipe II, em torno de 1580, com uma cópia ricamente ornamentada, fazendo o jogo conquistar rapidamente toda a nobreza europeia.
 

 
Por sua vez, foi encontrada referência ao jogo em 1480 em um livro de sermões italianos, que tratava da perniciosidade de se jogar dados. E, no século seguinte, em 1597, um design do tabuleiro foi registrado na Worshipful Company of Stationers, de Londres, por ordem do impressor e livreiro inglês, John Wolfe, como uma das primeiras formas de lei envolvendo direitos autorais. No decorrer dos anos, muitas versões do jogo eram elaboradas como verdadeira obra de arte, mostrando passagens históricas ou cenas mitológicas através de desenhos coloridos. Assim como, diferentes traduções: The Game of Goose, na Inglaterra; Jeu de l’Oie, na França; Il Gioco Dell’Oca, na Itália; El juego de la Oca, Espanha.

Conhecer Jogo do Ganso também é oportuno porque inúmeros jogos de tabuleiro criados atualmente com o propósito didático de ensinar sobre desafios e adversidades da sociedade contemporânea, a exemplo daqueles que ensinam a enfrentar o Corona vírus nesta Pandemia, apresentam esse padrão estrutural. É um modelo ao qual pode ser associado qualquer temática de jornada, com suas pertinentes adequações de mecânicas.

Regras e particularidades do Jogo do Ganso

Essa versão das regras tornou-se a mais popular, principalmente para ser jogada por crianças e adultos. Os jogadores devem seguir, com seu marcador, do exterior ao interior do espiral, percorrendo as casas, que são enumeradas da 1 até a 63, no centro do tabuleiro, considerada o jardim dos gansos. Podem jogar de 2 a 4 jogadores, com uso de 2 dados para mover seus marcadores (caso haja apenas 1 dado, o jogador lança duas vezes e soma os resultados). Decide-se o primeiro a jogar, aquele que tirar o número mais alto no lance de um dado, seguindo-se a partida no sentido horário.

As casas especiais do caminho contêm ações especificas que podem adiantar ou atrasar o jogador que cair nelas, durante a partida, conforme a lista a seguir

o Casa 6: A Ponte – avança até a casa 12.

o Casa 19: O Albergue – fica uma vez sem jogar.

o Casa 31: O Poço – espera outro jogador chegar ali e volta para a casa de onde ele saiu.

o Casa 42: O Labirinto – volta até a casa 37.

o Casa 52: A Prisão – fique 3 rodadas sem jogar.

o Casa 58: A Morte – retorna para recomeçar da casa número 1.

Casas com figura de um ganso

No percurso existem muitas casas com a figura de um ganso desenhado nelas. Ao cair em uma dessas casas, o jogador tem o direito de lançar novamente os dados. Caso avance até outro ganso, joga mais uma vez, até chegar a uma casa sem ganso.

Observação: como é necessário conseguir um número exato para se chegar à última casa, contando de onde se está, caso o jogador retire um número maior, deve contar a ida e a volta, passando pela último casa e retornando, podendo cair na casa de um ganso, o que fará com que retorne o mesmo número de casas, podendo até cair em outro ganso e voltando ainda mais para trás.

Uma regra adicional é usada no início da partida, no primeiro lance de cada jogador: se a soma dos 2 dados ou dos 2 lances de um dado for 5 e 4, o jogador pula para a casa 26, onde tem essa representação de dados e joga novamente. Caso, nessa segunda jogada o resultado forem os números 3 e 6, o jogador pula para a casa 53 e espera sua próxima vez.

A pior coisa que pode acontecer a um jogador é cair na casa 58, A Morte. E existem duas chances para isso: na ida ou na volta da última casa, se não tirar nos dados o número exato para vencer. Embora não seja uma morte definitiva, pois o jogador volta ao começo, obtendo uma nova chance de fazer o percurso.

Experimente jogar com esse tabuleiro espanhol do século XIX, pertencente à livraria de Juan Francisco Piferrer, de Barcelona.
 

 
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