Postado em: 30 de setembro, 2019.
Existem vários livros que tratam da Teoria do Jogo, mas este tem o mérito de demonstrar, do ponto de vista das estratégias, como aplicar essa teoria em áreas diversas, como: nos esportes, na guerra, na publicidade, no mundo dos negócios e até mesmo na saúde. Trata-se da obra: A arte da estratégia: como usar a teoria dos jogos para ganhar vantagens estratégicas em qualquer situação, do professor da Fuqua School of Business da Duque University, David McAdams (GestãoPlus, 2014 – Edição portuguesa).
O livro explica, inclusive, como a Teoria do Jogo pode influenciar consideravelmente a cultura de uma organização, uma vez que as empresas não são apenas jogadoras, mas, também, o ambiente no qual se jogam muitos jogos. São situações que ocorrem entre departamentos, entre colaboradores e gestores, entre a administração e a gestão, entre acionistas e muitos outros. Para McAdams: “A teoria do jogo atinge o seu maior potencial negocial quando os dirigentes de uma empresa criam a cultura e as estruturas organizativas necessárias para que toda a gente possa prosperar em conjunto”.
Porém, não haveria risco de considerar que os jogadores são pessoas meramente racionais, esquecendo-se de que existe, no contexto de mercados, muita complexidade e ambiguidade, tanto de comportamentos, quanto de caminhos a serem seguidos, mediantes possibilidades e oportunidades? McAdams responde a essa questão, explicando que a racionalidade implica que se tenha uma visão coerente do mundo e do que se quer na vida, bem como, uma busca coerente desse interesse: “Quem de entre nós sabe passar essa prova tão árdua? Quem de entre nós sabe o que quer realmente – sempre e em todas as situações – e nunca cede à tentação ou à autodestruição? No fim das contas, é bastante evidente que ninguém é verdadeiramente racional”. Seguindo esse sentido, o autor nos faz perceber que a Teoria do Jogo não exige racionalidade, sendo muito apropriada a dar orientações sobre estratégia em panoramas com jogadores “potencialmente irracionais”.
A abordagem de McAdams deixa claro que uma compreensão mais aprofundada do Dilema do Prisioneiro, base da Teoria do Jogo que é aplicado no âmbito das estratégias mercadológicas e organizacionais, consegue enriquecer o debate político e filosófico, que de modo caricaturizado tem sido exposto no contexto “capitalismo versus socialismo”, notadamente no que diz respeito à liberdade individual, à responsabilidade pessoal e à ação coletiva. O Dilema do Prisioneiro abrange qualquer situação em que os incentivos individuais entram em conflito com uma ação maior, de coletividade, demonstrando que todos os participantes do processo tendem a se dar mal quando cada um começa a defender apenas seus interesses pessoais.
Aprendemos nesse livro que o Dilema do Prisioneiro representa uma diferença fundamental entre “rédea solta e liberdade”, mostrando a necessidade de, em muitas ocasiões, colocarmos limites na nossa capacidade de fazer certas determinadas escolhas diante do aumento da responsabilidade pessoal pelas consequências dos atos. Sobre isso, diz McAdams: “Afinal, até o defensor mais fervoroso da liberdade pessoal sabe apreciar os danos e o caos da ‘liberdade’ desgovernada, e a importância de instituições que protejam a nossa liberdade para termos uma vida boa, sempre assegurando que não recusemos aos outros essa mesma oportunidade”.
Depois de tratar de cada um dos aspectos envolvendo o Dilema do Prisioneiro, tais como: regulação, cartelização, retaliação, confiança, relações, além de demonstrar alguns estudos de caso conhecidos internacionalmente, é que podemos compreender as assertivas deixadas inicialmente pelo autor, de que, “o maior poder da teoria do jogo está em criar consciência de como se processam jogos e em mostrar caminhos em que se possam mudar esses jogos para melhor”.