Postado em: 8 de dezembro, 2024.
“O que é que nem todos podem ter, mas ninguém tem?” Essa frase é uma adivinha ou um paradoxo? O que importa aqui não é se você sabe a resposta, mas o que você pode aprender com os processos que criam esses enigmas, para desenvolver a capacidade criativa de solucionar outros desafios.
Enigmas pra que te quero? Para abrir as portas da criatividade – Sinopse
Aprender a lidar com enunciados enigmáticos como esse nos ajuda a desenvolver uma das habilidades mais importantes nesses tempos difíceis: a versatilidade mental. Esta é uma obra repleta de desafios lúdicos, tais como adivinhações, enigmas e paradoxos, cujo objetivo, segundo o autor, “[…] é fazê-lo desenvolver, antes de tudo, uma mentalidade criativa; o que poderá ocorrer pela compreensão do modo como os desafios são elaborados e solucionados, pela diversão de experimentar valiosas lições que a mediação entre o raciocínio lógico e a inventividade tem a proporcionar, e pela demonstração de como nossa linguagem é dinâmica ao nos colocar problemas e revelar maneiras de solucioná-los”. Essa jornada o levará a conviver com aproximadamente 130 desafios mentais, na forma de frases, imagens, narrativas lúdicas, além de três enigmáticos contos envolvendo segredos, morte e mistérios a serem desvendados. Comece a leitura e criative-se!
Enigmas de raciocínio lógico na forma de narrativa curta:
ENTREVISTA COM O AUTOR
Um livro de enigmas que diverte e estimula a criatividade
“Saber como funciona a criatividade é bom. Mas, vivenciar seus processos mentais, experimentando os insights de respostas surpreendentes, é muito mais proveitoso para quem quer se tornar mais criativo diante de suas dificuldades”.
1. Como podemos tirar proveito pessoal dos enigmas?
Os enigmas nos ajudam a perceber como lidar com os problemas. Geralmente, as respostas estão ali ao nosso alcance, mas costumamos procurá-las em outro lugar e acabamos por desistir da busca ao achar um pouco difícil.
Quando sabemos que a forma do problema já traz metade da resposta, direcionamos e reposicionamos a nossa procura, para descobrir que o enigma se baseia, por exemplo, em jogos de palavras e artimanhas verbais. Isso nos permite pensar em alternativas apropriadas para achar as respostas – o que amplia nosso leque de recursos mentais.
2. Por que é importante a gente lidar com os enigmas no dia a dia?
Não se desenvolve a criatividade somente com teorias ou explicações de como ela funciona em nossa mente. É preciso experimentá-la e exercitá-la plenamente. As adivinhações, enigmas e paradoxos costumam nos proporcionar essa vivência, quer seja sozinhos, quer seja compartilhando os desafios com outras pessoas. O aspecto lúdico dessa experiência nos permite ser irreverentes para descobrir ou perceber soluções inusitadas. Saber como funciona a criatividade é bom. Mas, vivenciar seus processos mentais, experimentando os insights de respostas surpreendentes, é muito mais proveitoso para quem quer se tornar mais criativo diante de suas dificuldades. Alternar nosso ponto de vista e explorar a flexibilidade mental permite-nos encontrar diferentes abordagens.
Considere a pergunta: “Por que os pedreiros não podem viver em paz?”. Na frase escrita, a palavra “paz” aparece como sinônimo de “sossego”; as respostas são simples e variadas. Porém, quando alguém nos pergunta oralmente essa questão, designando-a como um enigma, precisamos considerar uma outra dimensão presente na fala: a palavra “paz” tem a mesma pronúncia de “pás”, aqueles instrumentos que os próprios pedreiros usam nas obras. E, nesse caso, há uma resposta óbvia: “os pedreiros não podem viver em pás, porque elas não servem como abrigo”. A ludicidade dessa pegadinha verbal gera um clima divertido para a mente humana que percebe a necessidade de pensar sob diferentes perspectivas. Muitos dos nossos problemas encontram resistência porque não os questionamos sob diferentes perspectivas.
3. Você considera adivinhações, enigmas e paradoxos como enigmas. Por quê?
Todos eles são considerados, popularmente, enigmas de um modo geral. Às vezes são iguais, mas são desiguais e diferentes. As adivinhações, chamadas também de adivinhas ou charadas, apelam para artimanhas verbais bastante criativas que desarticulam a lógica da língua. Os enigmas de lógica requerem raciocínio metódico e pensamento linear; entretanto, existe a pseudolinearidade que rompe com o rigor do raciocínio para instaurar uma outra lógica inesperada. Os paradoxos parecem soar, primeiro, como nonsense, mas podem ser verdadeiros e não requerem respostas, ou falsos e passam a ser enigmas que nos instigam uma solução. Pelos seus aspectos desconcertantes costumam ser ludicamente risíveis.
Na medida em que vamos descobrindo os processos de construção e diferenciação de cada tipo, participando das suas divertidas explicações, ampliamos nossa versatilidade mental, ou seja, a capacidade de lidar com múltiplas visões e ideias diferentes. Percebemos, quase sempre, que não é o desafio que não tem solução, apenas que não sabíamos procurar as possibilidades de respostas de forma criativa. Mas, nossa mente aprende esse processo, justamente com a experimentação das respostas que nos fazem dizer: “por que não pensei nisso?”.
4. Além do raciocínio lógico e da criatividade, seus enigmas parecem apelar para o uso da intuição nos processos de percepção….
Sim, isso mesmo. Um exemplo é o Teste das três garotas, uma variante que criamos a partir do Teste de Einstein, em que o leitor precisa descobrir, além das nacionalidades delas, suas tatuagens e comidas preferidas. Como há informações incompletas, nossa mente recorre à intuição, baseando-se nas informações escondidas ou guardadas em nosso subconsciente. O exercício da intuição é muito salutar diante da complexidade dos problemas nos dias de hoje, em que temos acesso a informações demais e tempo de menos.
5. Os três contos que estão no final de cada um dos três capítulos trazem referências a uma intertextualidade que você considera homenagens à literatura sobre enigmas. Eles já existiam antes do livro?
Todos os três contos foram criados exclusivamente para este livro, mas com base nos registros de enigmas que já tínhamos criado há um certo tempo. De fato, o primeiro conto baseia-se na literatura popular das lendas sobre botija, tão comum no Nordeste brasileiro e com as quais convivi desde cedo: um jovem revisita a casa dos avós e resolve enfrentar uma aparição que diz onde está o tesouro de um velho Coronel mediante a solução de uma advinha amaldiçoada, cuja falta de resposta pode ser trágica. O segundo conto é uma homenagem às narrativas enigmáticas de Malba Tahan, notadamente no livro: O homem que calculava, em sua peregrinação pelas terras do Oriente Médio, resolvendo problemas. Nesse caso, 3 especialistas em relíquias são levados a um museu no deserto para descobrir os segredos de artefatos históricos roubados e escondidos. E o terceiro conto, muito a propósito, homenageia os famosos detetives da literatura de crimes e mistérios, a exemplo de August Dupin e Sherlock Holmes, personagens de Edgar Allan Poe e Arthur Conan Doyle. A polícia chama um detetive para que ele desvende o mistério da morte de um milionário em sua mansão: foi suicídio ou assassinato? O leitor participa dessa aventura, conferindo os indícios e pistas para tentar solucionar o caso.
6. Desde quando você se interessa e convive com esses desafios?
Uma cena que nunca sai da minha cabeça é a de que estou sentado no colo do meu avô, no final dos anos de 1960, ouvindo adivinhações. Uma delas lembro bem: “O que é, o que é: cai em pé e corre deitado?”. A revelação de que era a chuva me fez rir bastante. Recolhi muitas dessas adivinhas e outros tipos de enigmas no decorrer de minha vida, passando a criar inúmeras outras que foram sendo usadas em minhas palestras para empresas desde os anos de 1980, em aulas ministradas na Universidade a partir do ano de 1990 e em vários dos meus livros sobre criatividade.
Aprendi com tudo isso que, para além de explicar teorias e querer ensinar as pessoas a serem criativas, é muito mais proveitoso fazê-las experimentar os processos criativos, a partir de aspectos lúdicos que as fazem quebrar a rigidez do pensamento racional. As adivinhações, enigmas e paradoxos mexem com nossas redes neuronais, criam novas conexões e ampliam nossa percepção da realidade problemática em que vivemos.
Sobre Marcos Nicolau
Pós-doutor em Comunicação (UFRJ) e em Neurociência Cognitiva (UFPB). Como professor universitário, realizou pesquisas de graduação, mestrado e doutorado nas áreas de Comunicação, Educação, Letras, Semiótica, Linguística. É editor há duas décadas da revista científica Temática e autor, entre outros, dos livros: Introdução à criatividade (1994), Educação criativa (1997), Dezcaminhos para a criatividade (1998), Razão e criatividade (2007), Ludosofia: a sabedoria dos jogos (2011), A mente racional e criativa (2019). Criou o Instituto Ludosofia e atualmente ensina xadrez e jogos pedagógicos para crianças e adolescentes.
O livro está disponível nas seguintes plataformas:
Amazon – impresso e Kindle
Estante Virtual
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Magalu – Magazine Luiza
Livrarias Wook – Portugal