Postado em: 26 de maio, 2019.
O que pode ser mais fascinante do que experimentar jogos de tabuleiro romanos numa feira típica de Portugal, senão encontrar relíquias originais desses jogos em exposição no Museu Arqueológico da cidade? Foi o que vivenciamos nesta semana de 22 a 26 de maio, por ocasião da Feira Romana Bracara Augusta 2019, em Braga. A Feira revive todos os anos a presença do Império Romano na região.
Primeiro, em um acampamento Romano reconstruído junto às ruínas das Termas Romanas descobertas na cidade de Braga, pudemos encontrar, em demonstração, dois jogos que foram populares entre as legiões: Tabula e Moinho, além de um calendário dos meses Romanos.
Um dos especialistas da exposição, Julian, nos mostrou como era jogado Tabula, um percussor do hoje conhecido Gamão. Nosso anfitrião explicou como se dava uma partida, com os lances dos dados sobre o tabuleiro e o movimento das peças.
Julian, à esquerda, explicando como se joga Tabula
Ainda no mesmo dia, sexta-feira, 24, encontramos, noutra parte da cidade, mais jogos de época, também praticados pelos romanos. Além dos jogos Tabula e Moinho, estava a venda uma miniatura do jogo Seega, este último encontrado no Egito Antigo quando o país estava dominado pelo Império Romano.
Seega reproduzido para venda em Braga
A Professora de História, Rosa Ribeiro, do Agrupamento de Escolas D. Maria II, à frente de uma das tendas, foi quem falou da presença desses jogos romanos na região, oportunidade em que deu demonstração do funcionamento de outro jogo mais moderno.
Profa. Rosa Ribeiro, de azul, demonstrando os jogos na Bracara Augusta
No dia seguinte, sábado, visitamos o Museu de Arqueologia D. Diogo de Sousa e, para nossa alegria, além das inúmeras peças recuperadas de escavações da presença dos Romanos na cidade e nos arredores de Braga, encontramos dois dos jogos em exposição na Feira Bracara Augusta:
Moinho e Tabula, relíquias em argila do Museu de Arqueologia de Braga
São belíssimos exemplares feitos de argila, com uso de dados e pedrinhas multicores. Na argila é possível ver as marcas dos traçados dos jogos. Esses artefatos dos jogos romanos, além de outros achados e inscrições arqueológicas em diferentes países, demonstram bem o quanto os jogos de tabuleiro tiveram participação e importância na formação da cultura humana em diferentes épocas, desde a antiguidade.
O jogo Moinho é conhecido no Brasil como, Trilha ou Firo. Foi difundido pelos Romanos, mas suas origens são muito mais antigas. Inscrições dele foram encontradas em cavernas pré-históricas da Áustria e da França, espalhando-se pelo Srilanka, Egito Antigo e jogado até pelos Vikings. Abaixo, imagem moderna de Trilha.
Seega é proveniente do Norte da África, principalmente do Egito, onde foram encontradas inscrições nas pedras da grande pirâmide. Atualmente, considera-se o jogo oficial da Somália. São jogados pelos Beduínos que cuidam dos camelos no deserto. Abaixo, imagem também atual do jogo Seega.
O jogo Tabula, cujo nome significa tabuleiro ou mesa, era também conhecido como Alea (dinheiro), e consiste numa corrida de peças, chamado de jogo de percurso. Originou-se vários séculos antes de Cristo, a partir de um jogo conhecido como Duodecim Scriptorium ou jogo de doze linhas. Tabula era muito popular entre os soldados romanos, devendo ter chegado na Europa no século I depois de Cristo e foi responsável pelo envolvimento no jogo a dinheiro, que causou grande estrago em Roma e terminou sendo considerado ilegal, não somente por lá, mas também na Rússia e na Espanha. Suas regras estão preservadas em uma partida que foi registrada pelo Imperador Zenão, em 480 d. C. Os historiadores consideram que Tabula foi sendo readaptado até chegar aos séculos mais recentes como Gamão. Abaixo, imagem de Tabula exposta na Bracara Augusta.