Postado em: 25 de setembro, 2020.
Os jogos de RPG têm sido utilizados nessa última década por professores de ensino fundamental e médio, para proporcionar uma aprendizagem mais dinâmica de diferentes disciplinas. Temos encontrado experiências diversas, mais especificamente de professores de português, matemática, história e até mesmo de educação física. O relato contributivo que fazemos aqui vem de uma experiência publicada em 2014, em que o professor Davenir Viganon, na ocasião apresentando seu relatório de estágio docência em História, utilizou-se do aparato do jogo RPG para ensinar sobre a história da Grécia Antiga a uma turma do Ensino Médio, cujos procedimentos e resultados ainda podem ser encontrados no Blog: O fato e a história.
Experiência como essa já havia sido iniciada no ano anterior pelo professor Walter Lippold, com aplicação do RPG para ensino de conteúdos escolares e o prof. Davenir aproveitou para também apresentar seu relato como prática de ensino. O resultado acabou produzindo um conjunto de diretrizes muito proveitosas para que outros professores possam seguir esse caminho, não apenas com RPG, mas também com os jogos de tabuleiro modernos, conhecidos como eurogames, por permitirem e proporcionarem contextos de aprendizagem de várias disciplinas.
O que nos interessa é chamar a atenção para a significativa contribuição da Davenir Viganon, a partir do modo operacional com que utilizou o RPG em sala de aula, elaborando um jogo específico para tratar da história da Grécia Antiga, bem como debater sobre questões em torno da sociedade daquela época, com suas guerras, sua política, seus hábitos e seus costumes. No final dessa matéria, o leitor encontrará um link para o depoimento completo de Davenir, com maiores detalhes de sua prática.
Em princípio, Davenir teve o cuidado de não começar diretamente com o jogo, mas sim, com o conteúdo temático, permitindo que os alunos conhecessem um pouco da sociedade grega e aspectos de sua existência. Porém, ao utilizar o jogo RPG focou exatamente naquilo que este tem de característica intrínseca, com embates e confrontos entre exércitos, responsáveis pelos aspectos da diversão do jogo. Para o professor, as regras se detalham mais na guerra porque é através dela que se decide quem poderá vencer o jogo. Em suas palavras sobre o desdobramento dessa proposta, esclareceu:
“Contudo busquei contemplar outros aspectos da sociedade grega clássica. Podemos encontrar cartas que abordem os princípios da educação; a função e posição das mulheres; as alianças políticas bem como as guerras entre gregos e contra o império Persa; as classes sem direitos políticos nas poleis e nestas se incluem tanto os escravos como os estrangeiros; como eram cultuados os deuses; e instituições que concentravam ou perdiam poder.”
Mas, como fazer avaliação desse tipo de atividade pedagógica com o uso de jogos de tabuleiro em geral. No caso da sistemática avaliativa de Davenir, além de ouvir oralmente cada um dos alunos sobre suas vivências na pele dos personagens, o professor solicitou que os alunos elaborassem uma redação a fim de obter um relato histórico. Nas suas observações, o professor constatou: “O envolvimento no jogo facilitaria a construção da narrativa e a tomada de posição que um cidadão grego teria frente aos assuntos e aspectos da sociedade seriam os pontos chave da redação. O resultado apareceu sob a forma de alguns textos maravilhosos de se ler”.
Davenir, no entanto, faz um alerta importante: não é o jogo por si só que vai resolver o problema da aprendizagem. Por isso, este não foi utilizado imediatamente, no primeiro dia de aula, sendo apresentado aos alunos somente nas aulas subsequentes, quando o conteúdo já havia sido abordado com sua devida profundidade. A partir de então foi possível, por parte deles, uma melhor compreensão do conteúdo das cartas.
Por fim, Davenir faz sua reflexão sobre o fato de que essa atividade exige envolvimento de pesquisa e criatividade do professor, para que haja uma efetiva contribuição ao processo de aprendizagem. Ao mesmo tempo em que, cabe a este perceber como promover uma certa autoria dos alunos, não mais como meros expectadores – e tudo isso requer uma adequação do conhecimento das teorias educacionais de quem ensina.
Conheça em detalhes o relato dessa experiência de Davenir Vigano visitando o Blog: O fato e a história através do link abaixo:
Brincar na aula de História: jogos, ensino e autoria